17 maio 2006

Interpretação Clínica do Hemograma (Parte I): Série Vermelha

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG

O hemograma pode ser entendido como o exame do sangue periférico que permite fazer avaliação da série vermelha, série branca (leucócitos), e das plaquetas.

Em sentido amplo, o sangue pode ser conceituado como um fluido que contém várias substâncias químicas em solução e uma variedade de células em suspensão. Participa de todas as atividades vitais do organismo oferecendo meios, para a respiração e nutrição celular, bem como, controlando as infecções e as hemorragias. Assim entendido, o sangue é formado por uma parte líquida (plasma) e pelos elementos figurados (hemácias, leucócitos e plaquetas).

O hemograma se preocupa em estudar as alterações que podem existir nos elementos figurados, seja em número quantitativo ou, na sua forma qualitativa. Esse estudo pode facilitar o diagnóstico de doenças e, pode permitir também, avaliações sobre a resposta do paciente em relação a um tratamento instituído.

O Estudo da Série Vermelha é feito pela contagem de hemácias, determinação do hematócrito, dosagem de hemoglobinas, cálculo dos índices hematimétricos e visualização microscópica dos eritrócitos (hemácias).

O Estudo da Série Branca (leucocitária) é feito pela contagem global de leucócitos, contagem diferencial dessas células e observação microscópica.

O Estudo das Plaquetas no hemograma é feito pela contagem do seu número, e observação microscópica, que permite ver a distribuição, tamanho, e formação de agregados.

Conhecendo-se os valores referenciais, considerados normais, pode-se fazer uma análise, e dessa forma chegar a uma conclusão sobre as alterações existentes no exame; ou, pode-se concluir pela sua normalidade.

Estudo da Série Vermelha

Embora o hematócrito e a contagem do número de hemácias possam estar alterados, o melhor resultado do hemograma para se chegar à conclusão de que um paciente está anêmico é a dosagem de hemoglobinas. Por definição, anemia é a diminuição da capacidade de transporte do oxigênio. Então, a avaliação direta da quantidade do pigmento existente nas hemácias, responsável pelo transporte de oxigênio, fornece a informação mais fidedigna para análise e conclusão.

Assim, dosagem de hemogobinas inferior a 12,5 g/dl para pacientes adultos, independentemente do sexo, idade e altitude em que vivem no Brasil, permite a conclusão de anemia; e permite também, classificar a anemia de acordo com a intensidade. Abaixo, segue uma classificação prática para uso clínico.

Anemia Grau I: valores compreendidos entre 12,4 e 11,0 g/dl.

Anemia Grau II: hemoglobina abaixo de 11,0 g/dl e igual ou superior a 9,0.

Anemia Grau III: a hemoglobina oscila entre 8,9 e 7,0 g/dl.

Anemia Grau IV: hemoglobina com valor abaixo de 7,0 g/dl.

Poliglobulia e policitemia, são melhores avaliadas no hemograma, pela contagem de hemácias. O hematócrito e a dosagem de hemoglobinas também podem estar alterados, mas existem outras causas e condições clínicas que interferem nesses resultados, razão pela qual a contagem do número de hemácias é o melhor dado que pode ser analisado. Contagem de hemácias igual ou superior a 7.000.000/mm3 é fortemente sugestiva de poliglobulia ou policitemia.

Quanto aos Índices hematimétricos, o Volume Corpuscular Médio (VCM ou VGM) pode auxiliar na conclusão de macrocitose ou microcitose. Valor acima de 104 fl permite a conclusão de macrocitose; e valor abaixo de 78 fl permite concluir por microcitose.

A Concentração Média de Hemoglobina Corpuscular (CMHC) é o índice que auxilia na conclusão de normocromia ou hipocromia. Quando está abaixo de 30% pode-se concluir que as hemácias são hipocrômicas; e quando esse índice reportar valor compreendido entre 31 e 36% a conclusão é de normocromia.

A Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) permite, tão somente, determinar a quantidade de hemoglobina que existe no interior das hemácias. Esse índice não permite a conclusão de hipocromia ou normocromia. Valores normais oscilam entre 27 e 33 pg.

O RDW é o índice que revela anisocitose, ou seja, presença de hemácias de tamanhos variados na amostra examinada. Está alterado quando é maior do que 15%. Os valores normais oscilam de 11,5 a 14,5%. Na maioria das vezes o RDW é analisado em associação com o VCM, e auxilia na conclusão de diagnósticos diferenciais como Anemia ferropriva, Anemia Megaloblástica, Talassemias, e Síndrome mielodisplásica.

A observação microscópica das hemácias permite visualizar eritrócitos de tamanhos diferentes (anisocitose), microcitose, macrocitose, alterações na forma (poiquilocitose), hipocromia, normocromia, esferocitose, microesferocitose, células em alvo, corpos de inclusão (Howel-Jolly, Anel de Cabot), parasitas (malária), além de presença de células que normalmente não deveriam estar na circulação periférica (mieloblastos, linfoblastos, eritroblastos, mielócitos, etc).

Um comentário:

Anônimo disse...

olá, sou aluno de medicina e estou fazendo um trabalho sobre anemias pos hemorragicas e estava procurando uma classificaçao, qunado achei essa. gostei dessa classificaçao e gostaria de saber qual é a referencia bibliografica para essa classificação. grato