12 dezembro 2006

Púpura Trombocitopênica Trombótica (Doença de Moschcowitz)

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG

Introdução
A Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) é uma doença rara com manifestação de 1 a 3 casos por milhão de pessoas por ano. A PTT caracteriza-se por hemólise microangiopática, agregados de plaquetas na microcirculação, e plaquetopenia no sangue periférica. Foi descrita pela primeira vez no ano de 1924 por Moschcowitz. Se não tratada, leva o paciente ao óbito em curto espaço de tempo. As mulheres são afetadas duas vezes mais que os homens e, embora possa se manifestar em qualquer idade, sua freqüência é maior entre os 20 e 40 anos, sem que uma causa específica possa ser identificada.

Fisiopatologia
Na fisiopatologia dessa doença está envolvido um componente normal da coagulação sangüínea chamado Fator von Willebrand (vWF), que bioquimicamente é uma grande molécula constituída por subunidades idênticas menores (multímeros). O Fator von Willebrand, é produzido pelas células endoteliais como macromolécula e logo em seguida é quebrado em subunidades de multímeros por uma enzima proteolítica denominada ADAMTS-13.
Quando há deficiência dessa enzima, cuja causa pode ser genética ou adquirida manifesta-se a Púrpura Trombocitopênica Trombótica. No adulto, quase sempre a doença é autoimune, causada pela presença de anticorpos que inibem a ação enzimática da ADAMTS-13. Isso resulta na presença de grandes moléculas de Fator von Willebrand na corrente circulatória, que ocasiona agregação das plaquetas e lesões na superfície interna dos vasos sangüíneos, principalmente no cérebro, rins, fígado, baço, e glândulas supra-renais.

Manifestações Clínicas
As manifestações iniciais da PTT incluem febre, sensação de mal-estar, cefaléia, dor abdominal e diarréia. Confusão mental, dificuldade para falar, vertigem, e paralisias transitórias são manifestações algumas vezes detectadas no exame clínico. Mais raramente, visão “borrada” pelo descolamento de retina.

Diagnóstico
Não há um exame laboratorial específico para diagnosticar a PTT, mas anemia, diminuição de plaquetas e presença de hemácias fragmentadas no esfregaço sangüíneo (esquizócitos), associadas ao quadro clínico, permite fazer o diagnóstico correto.

Diagnóstico Diferencial
É feito com Síndrome Hemolítica Urêmica, Coagulação Intravascular Disseminada, Acidente Vascular Cerebral (isquêmico ou hemorrágico), e Eclampsia, dentre outros.

Tratamento
Plasmaférese e administração de plasma fresco congelado é o tratamento de leição para PTT, pois permite a remoção de plasma contendo autoanticorpos e macromoléculas de Fator Von Willebrand, substituindo-o por plasma do doador que contém a protease normal (ADAMTS-13) e multímeros normais de Fator von Willebrand. Geralmente cinco procedimentos são suficientes. Deve-se associar à plasmaférese, administração oral ou endovenosa de corticósteróides. A literatura reporta que 80% dos pacientes respondem a esse tipo de tratamento.

Antiagregante plaquetário
São indicados quando a contagem de plaquetas reportar valores de 50.000/mm3 ou mais (AAS 75 mg/dia, por exemplo).

Imunossupressão
Nos casos refratários ao tratamento inicial com plasmaférese e corticosteróide recomenda-se imunossupressão com Vincristina, Azatioprina, Ciclofosfamida, Ciclosporina, ou Rituximab.

Esplenectomia
Tem sido indicada para alguns casos refratários ao tratamento com plasmaférese e corticosteróide, mas os resultados não são animadores e há relato de agravamento das manifestações clínicas do paciente após esse procedimento. Assim, essa modalidade de tratamento deve ser vista com cautela e sua indicação deve ser feita com muito critério, e quando não há possibilidade de empregar outros meios terapêuticos (imunossupressão).

Transfusão de Plaquetas
Formalmente está contra-indicada na PTT. Nos casos em que a contagem de plaquetas é muito baixa e há risco de morte por hemorragia, pode ser indicada.

Leitura Recomendada
1. Janis Wyrick-Glatzel (2004). Thrombotic thrombocytopenic purpura and ADAMTS-13: New insgights into pathogenesis, diagnosis and therapy. Lab Med 35(12):733-740, 2004. American Society for Clinical Pathology.
2. Sarah Allford & Samuel Machin. Thrombotic thrombocytopenic purpura (TTP). http://www.netdoctor.co.uk/diseases/facts/ttp.htm. Capturado em 10/Dez/2006.
3. D Symonette & Eric Hoffman. Department of Emergency Medicine, Hartford Hospital.Thrombocytopenic púrpura. http://www.emedicine.com/EMERG/topic579.htm Capturado em 10/Dez/2006.
4. Medical Encyclopedia. Thrombotic thrombocytopenic púrpura. http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000552.htm. Capturado em 10/Dez/2006.
5. Adrian Wiestner, Heam J. Cho, Adam S. Asch et al. (2002). Rituximab in the treatment of acquired factor VIII inhibitors. Brief report. Blood 100 (9):3426-3428. 1 November 2002.

01 novembro 2006

Transplante Autólogo de Medula Óssea no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás

Ricardo Guimarães Pecego (MD) & Celso da Cunha Bastos (MD).

Em março do ano de 1996 o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG) realizou seu primeiro Transplande Autólogo de Medula Óssea. Nessa ocasião, a equipe do Serviço de Hematologia era multidisciplinar, composta pelos médicos professores da Faculdade de Medicina Celso da Cunha Bastos (Chefe Serviço) e Ricardo Guimarães Pecego; além de Adriana Barbosa do Prado (médica do HC), Anamárcia Fontes (Médica Estagiária do Serviço de Hematologia), Laene Maria Marinho da Mota Sano (Enfermeira), Luciana Alves de Oliveira (Biomédica), Renata Carvalho Murad (Farmacêutica), Sebastião Benício da Costa Neto (Psicólogo), Fernanda Bueno (Nutricionista), e Eulange de Sousa (Assistente Social). O Professor Ricardo Pecego fez seus estudos sobre Transplante de Medula Óssea no Institute J. Paoli I. Calmettes, Marseille (França) no Serviço do Dr D. Maraninchi; e, também, no Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seatle/USA com o Dr Donald Thomas, e trouxe a técnica de transplante de medula óssea para o Estado de Goiás.
A paciente tinha 41 anos de idade e diagnóstico de Adenocarcinoma de mama. Foi submetida a mastectomia em 1995 e tinha recebido 07 ciclos de quimioterapia com Fluoruracila, Doxorubicina e Ciclofosfamida.
Posteriormente, concordou em se submeter ao Transplante Autólogo de Medula Óssea no Hospital das Clínicas/UFG. Como terapia de condicionamento foi utilizado o Melphalan (140 mg/m2) e Ciclofosfamida (120 mg/kg). Vinte quatro horas após, recebeu infusão de 600ml de células progenitoras frescas colhidas de sua própria medula óssea quarenta e oito horas antes. A alta hospitalar ocorreu 25 dias após a infusão da medula. Transcorridos 10 anos, a paciente encontra-se trabalhando normalmente, sem queixas relacionadas com a doença de base ou com o transplante realizado, e ainda é acompanhada pelo Dr Ricardo Pecego. Depois desse Autotransplante, foram realizados mais oito no Hospital das Clínicas/UFG, utilizando, nesses transplantes, células progenitoras colhidas no sangue periférico. Dos pacientes transplantados, 04 ainda são acompanhados pelo serviço de oncologia; 02 evoluíram posteriormente para o óbito; três perderam contato com Hospital das Clínicas/UFG. Nenhum evoluiu para óbito antes de decorridos cem dias. As doenças de base que motivaram as indicações de quimioterapia e, posteriormente, o Autotransplante de medula óssea foram: Adenocarcinoma de mama, Osteossarcoma, Linfoma de Hodgkin, e Mieloma Múltiplo. No ano de 2001 o Projeto da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas/UFG foi desativado.

17 maio 2006

Interpretação Clínica do Hemograma (Parte I): Série Vermelha

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG

O hemograma pode ser entendido como o exame do sangue periférico que permite fazer avaliação da série vermelha, série branca (leucócitos), e das plaquetas.

Em sentido amplo, o sangue pode ser conceituado como um fluido que contém várias substâncias químicas em solução e uma variedade de células em suspensão. Participa de todas as atividades vitais do organismo oferecendo meios, para a respiração e nutrição celular, bem como, controlando as infecções e as hemorragias. Assim entendido, o sangue é formado por uma parte líquida (plasma) e pelos elementos figurados (hemácias, leucócitos e plaquetas).

O hemograma se preocupa em estudar as alterações que podem existir nos elementos figurados, seja em número quantitativo ou, na sua forma qualitativa. Esse estudo pode facilitar o diagnóstico de doenças e, pode permitir também, avaliações sobre a resposta do paciente em relação a um tratamento instituído.

O Estudo da Série Vermelha é feito pela contagem de hemácias, determinação do hematócrito, dosagem de hemoglobinas, cálculo dos índices hematimétricos e visualização microscópica dos eritrócitos (hemácias).

O Estudo da Série Branca (leucocitária) é feito pela contagem global de leucócitos, contagem diferencial dessas células e observação microscópica.

O Estudo das Plaquetas no hemograma é feito pela contagem do seu número, e observação microscópica, que permite ver a distribuição, tamanho, e formação de agregados.

Conhecendo-se os valores referenciais, considerados normais, pode-se fazer uma análise, e dessa forma chegar a uma conclusão sobre as alterações existentes no exame; ou, pode-se concluir pela sua normalidade.

Estudo da Série Vermelha

Embora o hematócrito e a contagem do número de hemácias possam estar alterados, o melhor resultado do hemograma para se chegar à conclusão de que um paciente está anêmico é a dosagem de hemoglobinas. Por definição, anemia é a diminuição da capacidade de transporte do oxigênio. Então, a avaliação direta da quantidade do pigmento existente nas hemácias, responsável pelo transporte de oxigênio, fornece a informação mais fidedigna para análise e conclusão.

Assim, dosagem de hemogobinas inferior a 12,5 g/dl para pacientes adultos, independentemente do sexo, idade e altitude em que vivem no Brasil, permite a conclusão de anemia; e permite também, classificar a anemia de acordo com a intensidade. Abaixo, segue uma classificação prática para uso clínico.

Anemia Grau I: valores compreendidos entre 12,4 e 11,0 g/dl.

Anemia Grau II: hemoglobina abaixo de 11,0 g/dl e igual ou superior a 9,0.

Anemia Grau III: a hemoglobina oscila entre 8,9 e 7,0 g/dl.

Anemia Grau IV: hemoglobina com valor abaixo de 7,0 g/dl.

Poliglobulia e policitemia, são melhores avaliadas no hemograma, pela contagem de hemácias. O hematócrito e a dosagem de hemoglobinas também podem estar alterados, mas existem outras causas e condições clínicas que interferem nesses resultados, razão pela qual a contagem do número de hemácias é o melhor dado que pode ser analisado. Contagem de hemácias igual ou superior a 7.000.000/mm3 é fortemente sugestiva de poliglobulia ou policitemia.

Quanto aos Índices hematimétricos, o Volume Corpuscular Médio (VCM ou VGM) pode auxiliar na conclusão de macrocitose ou microcitose. Valor acima de 104 fl permite a conclusão de macrocitose; e valor abaixo de 78 fl permite concluir por microcitose.

A Concentração Média de Hemoglobina Corpuscular (CMHC) é o índice que auxilia na conclusão de normocromia ou hipocromia. Quando está abaixo de 30% pode-se concluir que as hemácias são hipocrômicas; e quando esse índice reportar valor compreendido entre 31 e 36% a conclusão é de normocromia.

A Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) permite, tão somente, determinar a quantidade de hemoglobina que existe no interior das hemácias. Esse índice não permite a conclusão de hipocromia ou normocromia. Valores normais oscilam entre 27 e 33 pg.

O RDW é o índice que revela anisocitose, ou seja, presença de hemácias de tamanhos variados na amostra examinada. Está alterado quando é maior do que 15%. Os valores normais oscilam de 11,5 a 14,5%. Na maioria das vezes o RDW é analisado em associação com o VCM, e auxilia na conclusão de diagnósticos diferenciais como Anemia ferropriva, Anemia Megaloblástica, Talassemias, e Síndrome mielodisplásica.

A observação microscópica das hemácias permite visualizar eritrócitos de tamanhos diferentes (anisocitose), microcitose, macrocitose, alterações na forma (poiquilocitose), hipocromia, normocromia, esferocitose, microesferocitose, células em alvo, corpos de inclusão (Howel-Jolly, Anel de Cabot), parasitas (malária), além de presença de células que normalmente não deveriam estar na circulação periférica (mieloblastos, linfoblastos, eritroblastos, mielócitos, etc).

20 abril 2006

Regulamento Técnico para Procedimentos Hemoterápicos (Resolução RDC 153 - ANVISA, 14/Junho/2004) - "reprodução parcial"

A rotina hemoterápica é uma atividade bem estabelecida na prática médica hoje e, na realidade, é um procedimento que tem salvado vidas e contribuído para a cura de doenças. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta o funcionamento dos Serviços de Hemoterapia, Bancos de Sangue e Agências Transfusionais, incluindo a coleta, o processamento, a testagem, o armazenamento, o transporte, o controle de qualidade e o uso humano do sangue, e seus componentes, obtidos do sangue venoso, cordão umbilical, da placenta, e da medula óssea.

Atualmente, está em vigor a Resolução RDC 153 - ANVISA, de 14 de junho de 2004, que normatiza e orienta os procedimentos a serem realizados nos Serviços de Hemoterapia. Abaixo, seguem transcritas algumas considerações e recomendações da RDC 153, relativas aos Princípios Gerais, Critérios de Proteção do Doador, e Exames Laboratoriais de realização obrigatória. A Resolução completa pode ser vista no "site" da ANVISA.

A - Princípios Gerais

A.1 - Toda transfusão de sangue traz em si um risco, seja imediato ou tardio, devendo, portanto, ser criteriosamente indicada.

A.2 - Em caso de cirurgias eletivas, deve ser indicada, sempre que possível, a realização de transfusão autóloga.

A.3 - A responsabilidade técnica e adminsitrativa pelos serviços de hemoterapia deve ficar a cargo de um médico especialista em hemoterapia e ou hematologia, ou ser qualificado por órgão competente devidamente reconhecido para esse fim pelo Sistema Estadual de Sangue. A este médico, o responsável técnico, cabe a responsabilidade final por todas as tividades médicas, técnicas e administrativas.

Estas responsabilidades incluem o cumprimento das normas técnicas e a determinação da adequação das indicações da transfusão de sangue e de componentes.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A.5 - O serviço de saúde que tenha serviço de hemoterapia deve constituir um comitê transfusional, multidisciplinar, do qual faça parte um representante do serviço de hemoterapia que o assiste. Este comitê tem como função o monitoramento da prática hemoterápica na instituição.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A.13 - Todos os materiais e substâncias que entram diretamente em contato com o sangue ou componentes a serem transfundidos em humanos devem ser estéreis, apirogênicos e descartáveis.

A.14 - O serviço de hemoterapia deve estabelecer um programa de controle de qualidade interno e participar de programas de controle de qualidade externo (proficiência), para assegurar que as normas e os procedimentos sejam apropriadamente executados e que os equipamentos, materiais e reativos funcionem corretamente.

A.15 - Todos os registros obrigatórios definidos por essa resolução devem ser guardados por um período mínimo de 20 anos.

A.16 -Todos os registros e documentos referentes às atividades desenvolvidas pelo serviço de hemoterapia devem possibilitar a identificação do técnico responsável.

A.17 - O serviço de hemoterapia fica obrigado a informar à autoridade da Vigilância Sanitária local (municipal) e esta às instâncias superiores (estadual e federal) qualquer investigação decorrente de casos de soroconversão, erros de triagem sorológica e imunematológica, ou outros que impliquem em risco à saúde do indivíduo ou da coletividade.

B - Critérios para a proteção do doador

B.5.1.1 - Idade
O doador de sangue ou componentes deve ter idade de, no mínimo, 18 anos completos e, no máximo, 65 anos 11 meses e 29 dias.

B.5.1.2 - Frequência e intervalo entre as doações
Exceto em circunstâncias especiais, que devem ser avaliadas e aprovadas pelo responsável técnico, a freqüência máxima admitida é de 4 (quatro) doações anuais, para os homens, e de 3 (três) doações anuais, para as mulheres.

O intervalo mínimo entre duas doações deve ser de 2 (dois) meses, para os homens, e de 3 (três) meses, para as mulheres, respeitados os limites descritos no parágrafo anterior.

Em caso de doador autólogo, a freqüência das doações pode ser programada de acordo com o protocolo aprovado pelo responsável técnico pelo serviço.

B.5.1.3 - Doenças atuais ou anteriores
Candidatos com doença hematológica, cardíaca, renal, pulmonar, hepática, auto-imune, diabetes tipo I, diabetes tipo II com lesão vascular, hipertireoidismo, hanseníase, tuberculose, câncer, sangramento anormal, convulsão após dois anos de idade, epilepsia, ou que informem outras doenças, devem ser convenientemente avaliados e podem ser excluídos temporária ou definitivamente da doação. As doenças que contra-indicam, definitiva ou temporariamente, a doação de sangue estão no Anexo II.

B.5.1.4 - Medicamentos
A história terapêutica recente deve merecer avaliação especial por parte de um médico, uma vez que tanto a indicação do tratamento, assim como o próprio tratamento, pode motivar a rejeição do candidato à doação. Cada medicamento deve ser avaliado individualmente e em conjunto, e registrado na ficha de triagem, sempre que possa apresentar alguma correlação com a doação de sangue.

A lista detalhada de medicamentos que contra-indicam a doação ou exigem cuidados especiais está descrita no Anexo III.

B.5.1.5 - Anemia
Devem ser determinados a concentração de hemoglobina ou o hematócrito, em amostra de sangue do candidato à doação obtida por punção digital ou por venopunção. A concentração de hemoglobina não deve ser inferior a 12,5 g/dL para as mulheres e o hematócrito não deve ser menor que 38%. Para os homens, estes limites são de 13,0 g/dL e 39%, respectivamente.

B.5.1.6 - Pulso
O pulso deve apresentar características normais, ser regular, e sua freqüência não deve ser menor que 60 nem maior que 100 batimentos por minuto.

A aceitação de doadores com freqüências fora deses limites dependerá de avaliação médica.

B.5.1.7 - Pressão arterial
A pressão sistólica não deve ser maior que 180 mmHg e nem inferior a 90 mmHg, e a pressão diastólica não deve ser menor que 60 mmHg nem maior que 100 mmHg.

Os candidatos à doação com pressão arterial não compreendida dentro dos valores mencionados só podem ser aceitos após avaliação e aprovação de médico do serviço de hemoterapia.

B.5.1.8 - Gravidez e menstruação
As candidatas à doação que estiverem grávidas devem ser impedidas de doar. Este impedimento se mantém até 12 semanas após o parto. Em caso de doença hemolítica peri-natal, em que não seja possível encontrar sangue compatível para a transfusão do recém-nascido, a mãe pode ser autorizada a realizar a doação de sangue, desde que haja consentimento escrito do hemoterapeuta e do médico obstetra.

A candidata deve ser excluída por 12 meses após um abortamento.

Não podem ser aceitas como doadoras as mulheres em períodos de lactação, a menos que o parto tenha ocorrido há mais de 12 meses.

A doação autóloga de gestantes pode ser aceita se contar com a aprovação do obstetra da gestante e do médico do serviço de hemoterapia.

A menstruação não contra-indica a doação. A hipermenorréia, ou outras patologias da menstruação, deve ser avaliada pelo médico.

B.5.1.9 - Peso
O peso mínimo para um candidato ser aceito para doação é de 50 kg. Indivíduos com peso abaixo deste limite podem ser aceitos, após avaliação médica, desde que a quantidade de anticoagulante na bolsa de coleta seja proporcional ao volume coletado.

Não devem ser aceitos como doadores os candidatos que refiram perda de peso inexplicável e superior a 10% do peso corporal, nos três meses que antecedem a doação.

B.5.1.10 - Volume a ser coletado
O volume de sangue total coletado não pode exceder a 8 ml/kg de peso para as mulheres e 9 ml/kg de peso para os homens. O volume admitido por doação é de 450 ml, mais menos 50 ml, aos quais podem ser acrescidos até 30 ml para a realização dos exames laboratoriais exigidos pelas leis e normas técnicas.

B.5.1.11 - Jejum e alimentação
Não deve ser colhido sangue de candidatos que estejam em jejum prolongado. Como é comum aos candidatos à doação comparecerem em jejum, o serviço deve oferecer um pequeno lanche antes da doação para os candidatos que estejam em jejum e que não tenham nenhum outro motivo para serem considerados inaptos.

Não deve ser coletado sangue de candidatos que tenham feito refeição copiosa e rica em substâncias gordurosas ou que tenham ingerido bebida alcoólica há menos de 4 (quatro) horas.

Após a doação, é obrigatória a oferta de lanche e hidratação oral adequada ao doador.

Deve-se recomendar ao doador que permaneça, pelo menos, 15 minutos no serviço após a doação.

B.5.1.12 - Alcoolismo
Qualquer evidência de alcoolismo agudo ou crônico é causa de rejeição. O alcoolismo agudo contra-indica a doação por 12 horas. O alcoolismo crônico é causa de inaptidão definitiva.

B.5.1.13 - Alergia
O doador alérgico somente será aceito se estiver assintomático no momento da doação. São inaptos definitivos aqueles que padecem de enfermidades atópicas graves, como por exemplo, asma brônquica grave.

Os tratamentos dessensibilizantes devem postergar a doação por até 72 horas depois da última aplicação.

B.5.1.14 - Atividades
Não devem ser aceitos para doação candidatos que não tenham condições de interromper, por pelo menos 12 horas após a doação, atividades que apresentem risco para si e para outros. Entre as atividades consideradas de risco estão: pilotar avião ou helicóptero, conduzir ônibus ou caminhões de grande porte, subir andaimes e praticar pára-quedismo ou mergulho.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

E.2 - Testes para Doenças Transmissíveis

E.2.1 - Testes obrigatórios

É obrigatória a realização de exames laboratoriais de alta sensibilidade em todas as doações, para identificação da doenças transmissíveis pelo sangue.

Estes exames devem ser feitos em amostra colhida da doação do dia e ser testada com conjuntos deiagnósticos (kits) registrados na ANVISA, em laboratórios específicos para tal fim.

Fica vedada a realização de exames em "pool" de amostras de sangue. Caso surjam novas tecnologias que tenham aplicação comprovada pela ANVISA para utilização em "pool" essa proibição será considerada.

O sangue total e seus componentes não podem ser transfundidos antes da obtenção de resultados finais não reagentes, nos testes de detecção para:

Hepatite B

Hepatite C

HIV-1 e HIV-2

Doença de Chagas

Sífilis

HTLV-1 e HTLV-II

O anexo VIII apresenta os algoritmos para testagem de cada uma das doenças acima.

E.2.2 - Malária
Nas regiões endêmicas com transmissão ativa (alto risco, pelo Índice Parasitológico Anual - IPA), deve ser realizado o exame parasitilógico/hematoscópio.

Em região endêmicas sem transmissão ativa recomenda-se o exame sorológico.

E.2.3 - Citomegalovírus (CMV)
Deve ser efetuada uma sorologia para CMV em todas as unidades de sangue ou componentes destinados aos pacientes:

a) submetidos a transplantes de órgãos com sorologia para CMV não reagente;

b) recém-nascidos com peso infeiror a 1.200g ao nascer, de mães CMV negativo ou com resultados sorológicos desconhecidos.

A realização dessa sorologia não é obrigatória, se for transfundido sangue desleucotizado nestes grupos de pacientes.

As bolsas CMV reagentes devem ser identificadas como tal.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Obs.: Como foi mencionado no início, a Resolução RDC 153 completa pode ser vista no "site" da ANVISA/MS.

Nosso objetivo é mostrar a importância dos Serviços de Hemoterapia e divulgar que as autoridades sanitárias brasileiras estão atentas para a qualidade do sangue ou componentes do sangue, que são oferecidos àqueles que necessitam desse tipo de tratamento.
Contribuição: Prof. Celso da Cunha Bastos

26 março 2006

Engulho

Celso da Cunha Bastos.

O quadro político-eleitoral brasileiro poder ser classificado de cômico, não fossem as graves conseqüências que pode gerar. A instabilidade emocional de algumas lideranças tem levado à desestruturação da segurança interna, com repercussões de tamanho crescente.

Cabe enfatizar que essa problemática, que se contrapõe às necessidades básicas do cidadão e também aos direitos e garantias constitucionais, está ligada aos atos de descompromisso com os programas partidários. A infiltração ideológica tem patrocinado fatos pitorescos na política e, também, contribuído para a instalação e manutenção do estado de desagregação social. Algumas decisões judiciais no campo político, de interesses partidários, não atendem os desejos e o pensamento nacional. Na realidade, soam como desafios à inteligência do mais incauto cidadão, além de revelarem incoerências que riducularizam os primados éticos e deontológicos que regem a ordem judiciária.

O que se percebe é que o homem tornou-se incapaz de ser o que realmente deseja, e que o impulso de crescer e adquirir poder, cada vez mais, submete seus valores intrínsecos aos instintos dos valores físicos. A polarização desapareceu e a razão é suplantada por atos e comportamentos que têm o objetivo único de manter-se no poder. Os atributos específicos das doutrinas e filosofias partidárias que se danem. Com raras exceções, o que se vê na prática política é o descompromisso com a ética e a submissão dos programas e objetivos partidários aos interesses da trivialidade pessoal.

O comportamento fisiológico com suas respostas condicionadas, adotado por concepções de pouco valor para os interesses coletivos, é que tem prevalecido nas decisões políticas. O equilíbrio dinâmico entre as tendências e doutrinas partidárias tem sido colocado à margem. A falta de coerência é a tônica. O que se vê são atuações tipo "salada mista", com manifestações desconexas da realidade político-social desejada, permitindo a implantação de programas equivocados, com resultados duvidosos e de nenhuma vantagem para o cidadão.

Espera-se que nas próximas eleições o brasileiro tenha juízo e bom-senso na escolha de seus candidatos, afastando do poder aqueles que tiveram oportunidade e deixaram de cumprir os compromissos assumidos em palanques. A medição da eficiência deverá ser realizada através de análise dos programas voltados para a comunidade ou, do apoio que deram a esses programas, dentre os quais: educação, saúde, segurança pública, habitação e lazer. No campo administrativo é imperioso avaliar se houve atritos sociais, sua extensão, e o quando de recursos da economia foram empregados em atividades improdutivas (propaganda).

Enfim, a conclusão é a de que, ressalvadas as exceções, as pessoas que hoje ocupam posições de mando no Brasil, não foram formadas dentro de princípios educacionais que realmente estejam voltados para formação de cidadãos. Por isso, atônitos, somos obrigados a assistir pela televisão a "DANÇA DO DEBOCHE", patrocinada por quem pensa que o Brasil é um país de beócios.

16 março 2006

Plaquetas: Indicações Transfusionais Profiláticas

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG.

Plaquetas são pequenas células anucleadas (3 a 4 µ de diâmetro), de estruturas complexas, formadas por fragmentação do citoplasma dos megacariócitos. Elas participam ativamente de mecanismos vitais do organismo e desempenham funções básicas na homeostase, principalmente relacionadas com a coagulação do sangue.

Se houver indicação, as plaquetas podem ser utilizadas como hemocomponentes e deverão ser transfundidas no máximo até cinco dias após a colheita.

Os concentrados de plaquetas podem ser obtidos pelo processo de fracionamento após coleta de uma bolsa de sangue do doador. Nesse caso, o concentrado tem aproximadamente 5,5 x 10¹º plaquetas/L, e cerca de 1 x 108 leucócitos. O volume líquido final do concentrado é de 50 ml.

Plaquetas colhidas por aférese ou de doador único, equivalem, em concentração de plaquetas, sete vezes o número que se obtém pelo método convencional. Assim, uma bolsa colhida por aférese contém aproximadamente 3,5 x 10¹¹ plaquetas/L, num volume final de 200 ml.

Uma vez colhido, os concentrados de plaquetas deverão ser armazenados na temperatura entre 20 a 24 ºC, em agitação contínua suave (existem equipamentos apropriados para isso).

A transfusão de plaquetas poderá ser feita como indicação profilática ou terapêutica. Profilaticamente, é indicada quando o paciente apresentar contagem plaquetária em número igual ou inferior a 20.000/mm³ , e ainda, apresentar evidências clínicas ou laboratoriais indicando que esse número vai continuar diminuindo. Também, há justificativas para profilaxia quando o paciente apresentar baixa contagem de plaquetas e necessitar de procedimentos cruentos para diagnóstico ou tratamento.

O GUIA DE CONDUTAS HEMOTERÁPICAS DO HOSPITAL SÍRIO LIBANES DE SÃO PAULO (Abril, 2005) recomenda para procedimentos inadiáveis, que as plaquetas estejam em número mínimo de 20.000/mm³ para permitir a realização de biópsia óssea.

Para endoscopia digestiva alta, broncoscopia, procedimentos invasivos em cirróticos, extração dentária, instalação de cateter peridural e biópsia hepática, recomenda contagem mínima de 50.000/mm³.

Não há dúvida que o melhor, é que esse número esteja próximo de 100.000/mm³. Muito importante também, nos casos de trombocitopênicos que necessitam realizar procedimentos cruentos, é que o Serviço de Hemoterapia ou Banco de Sangue tenha estoques adequados de concentrados de plaquetas para socorrer as necessidades emergenciais que poderão surgir em decorrência do procedimento inadiável realizado.

Não se pode esquecer que os valores mínimos de plaquetas aqui mencionados não constituem referências para indicações habituais. O que foi mencionado refere-se a procedimentos inadiáveis que deverão ser realizados em plaquetopênicos.

Por outro lado, pacientes que apresentam alterações funcionais de plaquetas em virtude de doença hereditária, deverão receber transfusões de concentrados plaquetários sempre que houver manifestações de sangramento, ou quando forem submetidos a procedimentos cruentos para diagnóstico ou tratamento.

Contraindicações
Trombocitopenia induzida por heparina, Púrpura Trombocitopênica Trombótica, e Púrpura Trombocitopênica Autoimune não devem ser tratadas com infusão de concentrado de plaquetas, a não ser que haja manifestações clínicas de hemorragias graves que põem a vida do paciente em risco.

Quantidade a ser transfundida
Havendo indicação, recomenda-se 1 Unidade de concentrado de plaquetas colhidas pelo método convencional, para cada 10 kg de peso do receptor, por dia. Assim, um paciente pesando 60 kg deverá receber 6 Unidades de concentrado de plaquetas. Espera-se que a infusão de cada unidade de concentrado de plaquetas obtido pelo método convencional aumente a contagem no receptor em 5 a 10 x 109/L.

No caso de utilizar plaquetas colhidas por aférese, recomenda-se a prescrição de apenas 1 Unidade para o paciente adulto e espera-se que o aumento no receptor seja de 30 a 60 x 109/L.

Observação cuidadosa e contagem de plaquetas devem ser realizadas para avaliar corretamente a necessidade de repetir a transfusão.

Resposta transfusional
A resposta transfusional pode ser avaliada pela melhora nas condições clínicas do paciente, ou então por uma fórmula que permite calcular a recuperação do nível de plaquetas.


Contag Plaq ( x109) x Vol sang
R (%) = -------------------------------------------
Plaq transfundida (x109)

(cont plaq depois da infusão)
(volume sangüíneo paciente)
(quantidade plaq transfundida)

Interpretação
o mínimo que se espera no sangue colhido 1 hora após a infusão de plaquetas é aumento de 30% em relação à contagem inicial. Vinte horas após a transfusão, o aumento deve ser 20% superior ao valor inicial.

Leitura Recomendada
1- Indicação clínica de hemocomponentes. Prado FC, Ramos J, Valle JR. In: Atualização Terapêutica (2001): 716-722. 20a. Ed. Artes Médicas.
2- Transfusão de plaquetas. Hemocomponentes em adultos. Silvano Wendel (2005). In: Guia de condutas hemoterápicas. Hospital Sírio Libanês. São Paulo. Brasil.
3- Platelets. Clinical practice guidelines on the use of blood components (2001). Australasian Society fo Blood Transfusion.
4- Immune thrombocytopenic purpura – Review article (2002). Cines DB & Blanchette VS. N Eng J Med. 346(13): 995-1008.
5- Platelets. Clinical guidelines for the use of blood products in South África. Capturado em 16/03/2006. www.doh.gov.za/docs/factsheets/guidelines/bp3/part4.pdf.

04 março 2006

Síndromes Mielodisplásicas

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG.

Síndromes mielodisplásicas (SMD) são alterações clonais de células pluripotentes caracterizadas por hematopoese ineficaz. Manifestam-se como citopenias refratárias e apresentam elevada incidência de evolução para leucemia aguda mieloblástica. As manifestações clínicas são de queixas mal definidas, geralmente em adultos com mais de 50 anos, aumentando a incidência com o avanço da idade. Na maioria das vezes a etiologia da SMD é desconhecida.

No ano de 1982 um Grupo Cooperativo constituído por pesquisadores franceses, norte-americanos e ingleses, classificaram a SMD em cinco tipos: Anemia Refratária (AR), Anemia Refratária com Excesso de Blastos (AREB), Anemia Refratária com Blastos em Transformação (AREB-t), Anemia Refratária com Sideroblastos em Anel (Anemia Sideroblástica) e, Leucemia Mielo-Monocítica Crônica (LMMC). É a Classificação FAB para a síndrome mielodisplásica.

Vários tratamentos têm sido propostos para SMD, no entanto, poucos têm mostrado eficácia. Atualmente, o transplante de medula óssea (alogênico) é o que melhor resultado oferece em termos de prolongar a sobrevida do paciente. A lenalidomida é um medicamento novo que tem fornecido resultados promissores nos estudos iniciais. Além de cuidados gerais, orientações, prevenção e controle das infecções, das hemorragias, e transfusões de sangue ou hemoderivados, os medicamentos abaixo relacionados foram ou, ainda são utilizados na SMD:

Globulina Anti-timócito e Ciclosporina
Estudos iniciais com globulina anti-timócito mostraram resultados animadores reportando melhora hematológica em cerca de 44% dos casos, principalmente, nos diagnosticados como “anemia refratária” (AR). A Ciclosporina também tem sido utilizada. Seu uso pode ser feito como medicação administrada isoladamente, ou em esquema de associação com a globulina anti-timócito.

Talidomida e Lenalidomida
Nos pacientes que requerem transfusões sangüíneas freqüentes, a talidomida tem sido utilizada e, segundo os relatos, há diminuição das necessidades transfusionais. Porém, devido à toxicidade neurológica decorrente do uso prolongado, a indicação desse medicamento requer cautela e critérios bem definidos para justificar seu emprego.
Atualmente, um derivado da talidomida, a Lenolidamida, não apresenta a mesma toxicidade neurológica da droga que lhe deu origem, e os estudos iniciais mencionam que ela atua na SMD aumentando a produção de hemácias e, ao mesmo tempo, diminuindo a produção de neutrófilos e plaquetas.

Quimioterapia Antineoplásica e Transplante de Medula Óssea:
Tendo em vista a natureza clonal das alterações hematológicas, e pelo fato de que os pacientes com SMD costumam evoluir para um quadro terminal de leucemia aguda, tratamento citotóxico ou transplante de medula óssea têm sido indicados para pacientes que apresentam aumento do número de blastos na medula óssea. Assim, quimioterapia em baixas doses utilizando uma única droga; quimioterapia convencional para leucemia aguda mieloblástica; ou transplante de medula óssea, tem suas indicações justificadas.

Fatores de Crescimento Hematopoético
Podem ser utilizados isoladamente ou em combinação. Os mais empregados são o Fator Estimulador de Colônia para Granulócitos (G-CSF), Fator Estimulador de Colônia para Granulócitos e Macrófagos (GM-CSF), e a Eritropoitina (EPO). No entanto, deve-se considerar que esses medicamentos são utilizados para diminuir o grau de citopenia que os pacientes apresentam, e, não para a cura da SMD. Também, não há evidências de que o emprego de fatores de crescimento hematopoético esteja relacionado com o prolongamento da sobrevida dos pacientes. Por isso, esse tipo de terapia não é empregado rotineiramente no tratamento da SMD.

Outras Citocinas
Interleucina 3 (IL-3) e Interleucina 6 (IL-6) também têm sido empregadas para tratar a síndrome mielodisplásica, mas os resultados não estão claramente estabelecidos.

Danazol
É um andrógeno semi-sintético que tem atividade na púrpura trombocitopência imune. Não tem ação relevante na síndrome mielodisplásica.

Corticosteróides
O aumento na susceptibilidade à infecção torna seu benefício limitado e contra-indica seu uso na Síndrome Mielodisplásica.

Leitura Recomendada
1- Myelodysplastic syndromes – Review articles. (1996). P. Fenaux. Hematol Cell Ther 38: 363-380.
2- Myelodysplasic syndromes: clinical features (1996). Hofmann WK, Ottmann OG, Ganser A, Hoelzer D. Semin Hematol 33(3): 177-185.
3- Myelodysplastic syndromes – Coping with ineffective hematopoiesis. (2005). Cazzola M & Luca M. New Eng J Med 352(6): 536-538.
4- Anti-thymocyte globulin abrogates cytopenias in patients with myelodysplastic syndrome (1996). Molldrem J, Stether-Stevenson M, Mavroudis D, et al. Blood 88 (Suppl 1): 1804a.
5- Continuous infusion of low-dose 5-Aza-2’-deoxycytidine in elderly patients with high-risk myelodysplastic syndrome. (1997). Wijermans PW, Krulder JW, Huijgens PC, et al. Leukemia 11: 1-5.
6- Allogeneic bone marrow transplantation for 93 patients with myelodysplastic syndrome. (1993). Anderson JE, Appelbaum FR, Fisher LD, et al. Blood 82: 677-81.
7- Intensive chemotherapy and bone marrow transplantation for myelodysplastic syndromes. (1996). Gassmann W, Schmitz N, Löffler H, Witte TD. Seminars in Hematol 33(3): 196-205.
8- Clinical use of hematopoietic growth factors in the myelodysplastic syndromes. (1996). Ganser A, Hoelzer D. Semin Hematol 33: 186-195.
9- A phase I trial of recombinant human interleukin-6 in patientswith myelodysplastic syndromes and thrombocytopenia. (1995). Gordon MS, Nemunaitis J, Hoffman R, et al. Blood 85: 3066-3076.
10- Danazol for myelodysplastic syndromes. (1993). Catalano L, Selleri C, Montuori N, et al. Br J Haematol 85: 230-231.
11- Ethiopathogeny, prognosis and therapy of myelodysplastic syndromes. (1997). Sanz GF, Sanz MA, Vallespi T. Hematol Cell Ther 39: 277-294.

03 março 2006

Reforma Universitária

Celso da Cunha Bastos.

Questões como autonomia, gestão e financiamento das Universidades dominam os debates sobre a Reforma no Ensino da Educação Superior. Entretanto, discussões sobre a definição do tipo de Ensino que deve ser ministrado para que os universitários de hoje desenvolvam uma visão crítica do passado e a realidade atual, raramente têm sido feitas. Com isso, é certo que, com muita dificuldade esses universitários desenvolverão percepções que permitam formular conhecimentos inovadores para projetar o futuro de acordo com as necessidades do desenvolvimento regional ou nacional.
Não se pode esquecer que as Universidades desempenham papel fundamental na estruturação de conhecimentos que permitam a construção de uma sociedade mais justa, moderna e inclusiva. Em outras palavras, pode-se dizer que soam corretas as palavras da ANDIFES (2004) quando afirma que Educação Superior é um bem público que condiciona o desenvolvimento humano, favorece o crescimento econômico, facilita o desenvolvimento social e permite a afirmação de valores e identidades culturais de uma nação.
Com relação ao ensino, pesquisa e extensão constata-se que as políticas nacionais de produção científica e de produção tecnológica não apresentam simetrias com os objetivos e finalidades que se esperam das Instituições de Educação Superior. Os recursos de finaciamento são escassos para a pesquisa e para o desenvolvimento tecnológico nas Universidades Públicas, e, praticamente, inexistentes nas Instituições Privadas. Assim, constata-se que não há, nos formuladores e executores de políticas de ensino, a firme consciência de que a EDUCAÇÃO é um importante setor estratégico do Desenvolvimento Nacional.
Apontar equívocos, erros ou falhas nas políticas atuais do ensino superior significa conhecer o presente e analisá-lo com base no passado para projetar o futuro. Descobrir na realidade do presente as imperfeições do sistema atual e reconhecer a necessidade de construir uma estrutura de ensino superior moderno, atualizado e em consonância com a vida globalizada é uma verdade que tem seu fundamento no idealismo subjetivo de cada cidadão brasileiro. Educar, crescer e desenvolver são palavras chaves desse idealismo e devem estar presentes em todos os momentos quando se discute a Reforma Universitária.

26 fevereiro 2006

Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD)

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG.

A glicose-6-fosfato desidrogenase é uma enzima que mantém níveis adequados de NADPH (dinucleotídeo fosfato-nicotinamida reduzido) no interior das células. A deficiência dessa enzima é uma doença hereditária que acomete cerca de 400 milhões de pessoas no mundo e, é mais freqüente na raça negra. É uma doença ligada ao cromosoma X (Xq28), que, no recém-nascido, pode se manifestar logo após o nascimento como icterícia prolongada. Nos adultos manifesta-se como anemia hemolítica intravascular.

A deficiência de G6PD confere resistência à infecção pelo P. falciparum, que, não consegue sobreviver no interior de hemácias cuja habilidade para transportar oxigênio está alterada. Questiona-se, se essa alteração genética surgiu como mecanismo de defesa para proteger as pessoas residentes em zonas endêmicas de malária.

Nas hemácias, a G6PD catalisa a oxidação (perda de elétrons) da glicose-6-fosfato para dar origem ao 6-fosfoglutamato. Essa reação ocorre na presença de NADP (dinucleotídeo fosfato adenina nicotinamida) que recebe os elétrons e transforma-se em NADPH (forma reduzida). É a primeira fase do modelo de reação das pentoses-fosfato, que termina com a síntese de ribose, um componente essencial para a formação de ácidos nucléicos (ARN e ADN). A glicose-6-fosfato desidrogenase é também importante para manter o glutatione (GSH) na forma reduzida, e assim, diminuir o “stress” oxidativo no interior das células.

A icterícia apresentada pelos pacientes é decorrência do metabolismo da hemoglobina. Após o rompimento das hemácias no interior dos vasos sanguíneos a hemogoglobina livre liga-se a uma proteína específica, haptoglobina, que a transporta para o fígado onde é metabolizada.

Dentre os fatores desencadeantes de crises hemolíticas nos portadores da deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, menciona-se ingestão de drogas oxidantes (antimaláricos, antiinflamatórios não-esteróides, sulfas, e outros); infecções; e, para alguns pacientes, também a ingestão de sementes de feijão (Favismo).

As manifestações clínicas são fadiga, palidez, icterícia, alterações hemodinâmicas cárdio-respiratória, esplenomegalia e urina escura.

Laboratorialmente, são necessários para o diagnóstico, exames para confirmar a anemia, a hemólise, e determinação da Atividade da G6PD eritrocitária (fora da crise hemolítica).

O tratamento da doença consiste em afastar o fator desencadeante da hemólise e, dependendo das manifestações clínicas, fototerapia para os recém-nascidos (e/ou exanguíneo); transfusão de papa de hemácias. Também, cuidados gerais de monitoramento das funções cardíaca, pulmonar e renal, bem como tratamento da infecção, se houver. A prevenção é o melhor meio para evitar o início das crises hemolíticas.

Leitura Recomendada
1- Anemias hemolíticas enzimopáticas. Terezinha F. Lorenzi. in: Manual de Hematologia 1999; 2a Ed. Medsi.
2- Glucose-6-phosphate dehydrogenase deficiency and other enzyme abnormalities. Ernest Beutler. in: Hematology (Williams) 1995; 5a Ed. McGraw-Hill Inc.
3- Genomic Medicine: A Primer. Guttmacher A.L. & Collins F.S. N. Eng. J. Med. 2002; 347 (19): 1512-1520.

24 fevereiro 2006

Aprendizado por Competência

É o processo de ensino que envolve uma pedagogia diferenciada na qual estão inseridos aspectos relevantes como as necessidades e as diversidades da região e da comunidade onde o aluno se encontra. Por esse tipo de aprendizagem, o aluno aprende fazer pesquisas individuais ou coletivas, trabalhar em grupo, fazer reflexões, promover discussões e, finalmente, formular decisões que podem ser individuais ou coletivas.
Na aprendizagem por competência o aluno tem oportunidade de desenvolver as habilidades que são requeridas para a execução de tarefas seletivas e que estão em sintonia com as necessidades do mercado de trabalho loco-regional. Na elaboração da grade curricular, leva-se em consideração as tendências e necessidade do mercado local. Assim, é definido o perfil do profissional que se deseja formar, e, espera-se que ao sair da escola, o aluno possa atender as necessidades e as exigências do mercado.
O sucesso desse tipo de aprendizagem está na coerência entre as estratégias de ensino e o objetivo a ser alcançado. É necessário integrar teoria e prática. Por isso, o processo deve ser continuamente avaliado através de indicadores, e as metodologias aplicadas devem guardar simetrias com as tendências do mercado de trabalho.
Prof. Celso da Cunha Bastos

Metodologias Ativas

Metodologias ativas são processos interativos de conhecimento, análise, estudos, pesquisas e decisões individuais ou coletivas, com a finalidade de encontrar soluções para um problema. É o processo de ensino em que a aprendizagem depende do próprio aluno. O professor atua como facilitador ou orientador para que o estudante faça pesquisas, reflita e decida por ele mesmo, o que fazer para atingir um objetivo.
É um processo que estimula a auto aprendizagem e facilita a educação continuada porque desperta a curiosidade do aluno e, ao mesmo tempo, oferece meios para que possa desenvolver capacidade de análise de situações com ênfase nas condições loco-regionais e apresentar soluções em consonância com o perfil psicosocial da comunidade na qual está inserido.
Prof. Celso da Cunha Bastos