16 março 2006

Plaquetas: Indicações Transfusionais Profiláticas

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG.

Plaquetas são pequenas células anucleadas (3 a 4 µ de diâmetro), de estruturas complexas, formadas por fragmentação do citoplasma dos megacariócitos. Elas participam ativamente de mecanismos vitais do organismo e desempenham funções básicas na homeostase, principalmente relacionadas com a coagulação do sangue.

Se houver indicação, as plaquetas podem ser utilizadas como hemocomponentes e deverão ser transfundidas no máximo até cinco dias após a colheita.

Os concentrados de plaquetas podem ser obtidos pelo processo de fracionamento após coleta de uma bolsa de sangue do doador. Nesse caso, o concentrado tem aproximadamente 5,5 x 10¹º plaquetas/L, e cerca de 1 x 108 leucócitos. O volume líquido final do concentrado é de 50 ml.

Plaquetas colhidas por aférese ou de doador único, equivalem, em concentração de plaquetas, sete vezes o número que se obtém pelo método convencional. Assim, uma bolsa colhida por aférese contém aproximadamente 3,5 x 10¹¹ plaquetas/L, num volume final de 200 ml.

Uma vez colhido, os concentrados de plaquetas deverão ser armazenados na temperatura entre 20 a 24 ºC, em agitação contínua suave (existem equipamentos apropriados para isso).

A transfusão de plaquetas poderá ser feita como indicação profilática ou terapêutica. Profilaticamente, é indicada quando o paciente apresentar contagem plaquetária em número igual ou inferior a 20.000/mm³ , e ainda, apresentar evidências clínicas ou laboratoriais indicando que esse número vai continuar diminuindo. Também, há justificativas para profilaxia quando o paciente apresentar baixa contagem de plaquetas e necessitar de procedimentos cruentos para diagnóstico ou tratamento.

O GUIA DE CONDUTAS HEMOTERÁPICAS DO HOSPITAL SÍRIO LIBANES DE SÃO PAULO (Abril, 2005) recomenda para procedimentos inadiáveis, que as plaquetas estejam em número mínimo de 20.000/mm³ para permitir a realização de biópsia óssea.

Para endoscopia digestiva alta, broncoscopia, procedimentos invasivos em cirróticos, extração dentária, instalação de cateter peridural e biópsia hepática, recomenda contagem mínima de 50.000/mm³.

Não há dúvida que o melhor, é que esse número esteja próximo de 100.000/mm³. Muito importante também, nos casos de trombocitopênicos que necessitam realizar procedimentos cruentos, é que o Serviço de Hemoterapia ou Banco de Sangue tenha estoques adequados de concentrados de plaquetas para socorrer as necessidades emergenciais que poderão surgir em decorrência do procedimento inadiável realizado.

Não se pode esquecer que os valores mínimos de plaquetas aqui mencionados não constituem referências para indicações habituais. O que foi mencionado refere-se a procedimentos inadiáveis que deverão ser realizados em plaquetopênicos.

Por outro lado, pacientes que apresentam alterações funcionais de plaquetas em virtude de doença hereditária, deverão receber transfusões de concentrados plaquetários sempre que houver manifestações de sangramento, ou quando forem submetidos a procedimentos cruentos para diagnóstico ou tratamento.

Contraindicações
Trombocitopenia induzida por heparina, Púrpura Trombocitopênica Trombótica, e Púrpura Trombocitopênica Autoimune não devem ser tratadas com infusão de concentrado de plaquetas, a não ser que haja manifestações clínicas de hemorragias graves que põem a vida do paciente em risco.

Quantidade a ser transfundida
Havendo indicação, recomenda-se 1 Unidade de concentrado de plaquetas colhidas pelo método convencional, para cada 10 kg de peso do receptor, por dia. Assim, um paciente pesando 60 kg deverá receber 6 Unidades de concentrado de plaquetas. Espera-se que a infusão de cada unidade de concentrado de plaquetas obtido pelo método convencional aumente a contagem no receptor em 5 a 10 x 109/L.

No caso de utilizar plaquetas colhidas por aférese, recomenda-se a prescrição de apenas 1 Unidade para o paciente adulto e espera-se que o aumento no receptor seja de 30 a 60 x 109/L.

Observação cuidadosa e contagem de plaquetas devem ser realizadas para avaliar corretamente a necessidade de repetir a transfusão.

Resposta transfusional
A resposta transfusional pode ser avaliada pela melhora nas condições clínicas do paciente, ou então por uma fórmula que permite calcular a recuperação do nível de plaquetas.


Contag Plaq ( x109) x Vol sang
R (%) = -------------------------------------------
Plaq transfundida (x109)

(cont plaq depois da infusão)
(volume sangüíneo paciente)
(quantidade plaq transfundida)

Interpretação
o mínimo que se espera no sangue colhido 1 hora após a infusão de plaquetas é aumento de 30% em relação à contagem inicial. Vinte horas após a transfusão, o aumento deve ser 20% superior ao valor inicial.

Leitura Recomendada
1- Indicação clínica de hemocomponentes. Prado FC, Ramos J, Valle JR. In: Atualização Terapêutica (2001): 716-722. 20a. Ed. Artes Médicas.
2- Transfusão de plaquetas. Hemocomponentes em adultos. Silvano Wendel (2005). In: Guia de condutas hemoterápicas. Hospital Sírio Libanês. São Paulo. Brasil.
3- Platelets. Clinical practice guidelines on the use of blood components (2001). Australasian Society fo Blood Transfusion.
4- Immune thrombocytopenic purpura – Review article (2002). Cines DB & Blanchette VS. N Eng J Med. 346(13): 995-1008.
5- Platelets. Clinical guidelines for the use of blood products in South África. Capturado em 16/03/2006. www.doh.gov.za/docs/factsheets/guidelines/bp3/part4.pdf.

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