26 fevereiro 2006

Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD)

Celso da Cunha Bastos, MD.
Depto Clinca Médica Fac Medicina/Universidade Federal de Goiás
Serviço de Hematologia e Hemoterapia - Hosp Clínicas/UFG.

A glicose-6-fosfato desidrogenase é uma enzima que mantém níveis adequados de NADPH (dinucleotídeo fosfato-nicotinamida reduzido) no interior das células. A deficiência dessa enzima é uma doença hereditária que acomete cerca de 400 milhões de pessoas no mundo e, é mais freqüente na raça negra. É uma doença ligada ao cromosoma X (Xq28), que, no recém-nascido, pode se manifestar logo após o nascimento como icterícia prolongada. Nos adultos manifesta-se como anemia hemolítica intravascular.

A deficiência de G6PD confere resistência à infecção pelo P. falciparum, que, não consegue sobreviver no interior de hemácias cuja habilidade para transportar oxigênio está alterada. Questiona-se, se essa alteração genética surgiu como mecanismo de defesa para proteger as pessoas residentes em zonas endêmicas de malária.

Nas hemácias, a G6PD catalisa a oxidação (perda de elétrons) da glicose-6-fosfato para dar origem ao 6-fosfoglutamato. Essa reação ocorre na presença de NADP (dinucleotídeo fosfato adenina nicotinamida) que recebe os elétrons e transforma-se em NADPH (forma reduzida). É a primeira fase do modelo de reação das pentoses-fosfato, que termina com a síntese de ribose, um componente essencial para a formação de ácidos nucléicos (ARN e ADN). A glicose-6-fosfato desidrogenase é também importante para manter o glutatione (GSH) na forma reduzida, e assim, diminuir o “stress” oxidativo no interior das células.

A icterícia apresentada pelos pacientes é decorrência do metabolismo da hemoglobina. Após o rompimento das hemácias no interior dos vasos sanguíneos a hemogoglobina livre liga-se a uma proteína específica, haptoglobina, que a transporta para o fígado onde é metabolizada.

Dentre os fatores desencadeantes de crises hemolíticas nos portadores da deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, menciona-se ingestão de drogas oxidantes (antimaláricos, antiinflamatórios não-esteróides, sulfas, e outros); infecções; e, para alguns pacientes, também a ingestão de sementes de feijão (Favismo).

As manifestações clínicas são fadiga, palidez, icterícia, alterações hemodinâmicas cárdio-respiratória, esplenomegalia e urina escura.

Laboratorialmente, são necessários para o diagnóstico, exames para confirmar a anemia, a hemólise, e determinação da Atividade da G6PD eritrocitária (fora da crise hemolítica).

O tratamento da doença consiste em afastar o fator desencadeante da hemólise e, dependendo das manifestações clínicas, fototerapia para os recém-nascidos (e/ou exanguíneo); transfusão de papa de hemácias. Também, cuidados gerais de monitoramento das funções cardíaca, pulmonar e renal, bem como tratamento da infecção, se houver. A prevenção é o melhor meio para evitar o início das crises hemolíticas.

Leitura Recomendada
1- Anemias hemolíticas enzimopáticas. Terezinha F. Lorenzi. in: Manual de Hematologia 1999; 2a Ed. Medsi.
2- Glucose-6-phosphate dehydrogenase deficiency and other enzyme abnormalities. Ernest Beutler. in: Hematology (Williams) 1995; 5a Ed. McGraw-Hill Inc.
3- Genomic Medicine: A Primer. Guttmacher A.L. & Collins F.S. N. Eng. J. Med. 2002; 347 (19): 1512-1520.

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